quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O “carma” a caminho do céu

Eu imagino que todos devam estar cansados do caso de Santo André, mas não seria Eu se deixasse passar o episódio em branco no meu blog.

Concordem ou não! Isso é o que eu acho.

O conceito de “carma” existe em muitas culturas, especialmente por toda a Ásia, e é freqüentemente incompreendido. Se vamos usar nosso livre arbítrio tentado o suicídio, por exemplo, lá vem o pedido de “carma”, igualmente em véspera de eleições; “carma” escolha bem o candidato! Mas deixando de lado o humor, afinal o que é “carma”?

Um termo quase sempre usado para convencer os desprivilegiados da sociedade a aceitar suas situações desafortunadas na vida, como sendo decorrentes de sua própria criação. Ao aceitar seus destinos predeterminados, eles se resignarão às disparidades sociais. Em sânscrito, “carma” significa ato, oração. Originalmente isto significa trabalho ou função e é relacionado a palavras fazer ou produzir. No budismo, “carma” refere-se às nossas ações, ou causas, criadas através de nossos pensamentos, palavras e comportamento.

Mas se assim fosse não haveria razão de se prender, julgar e fazer cumprir pena a um seqüestrador, por exemplo. O jovem triiloucado Lindenberg estaria absolvido de seu crime, pois morrer teria sido o “carma” de Eloá. E muitos no episódio do mais longo seqüestro no cenário policial brasileiro, curiosos que se amontoam e não percebem que mais atrapalham do que somam, e volta e meia atribuíam ao “carma” daquela adolescente o sofrimento pelo qual estava passando. Isto acontece por nossos “pensamentos, palavras e comportamentos” têm ai uma explicação!

O comportamento de Eloá extraindo do noticiário o que presta, se verifica que a menina teve um comportamento convencional para sua idade, em que a maioria ainda não se esqueceu das bonecas. Dizem que o fruto que demora a amadurecer demora mais a apodrecer! Eloá amadureceu rápido e como em um flash passou um curto espaço de tempo, onde viveu infância, adolescência e juventude. Não envelheceu, não caiu do galho como as frutas que já estão no ponto, a derrubaram com um tiro a partir da insana idéia de Lindenberg, de que tudo era seu.

A imprensa havida em oferecer emoções aos telespectadores só faltou colocar no ar comerciais criados pelo marketing, especialmente para o momento: “Estamos transmitindo diretamente, por oferecimento da Funerária Caminho do Céu!”, poderia acontecer se mais dias demorasse o seqüestro. Como se o “carma” dos telespectadores fosse ouvir tanta besteira, elas vieram em profusão. Além do que, a imprensa com tantas entrevistas ao vivo através do celular de Lindenberg, fez com que ele se sentisse um super-herói. Mas, trocando em miúdos o final trágico; dizem faltou “carma” aos policiais que invadiram precipitadamente o apartamento.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Nada a comemorar



Ontem foi o dia da criança, e lembrei angustiadamente do episódio relatado pela repórter Érika Klingl, do Correio Braziliense. Crianças e adolescentes se prostituiam por R$3 no centro de Brasília. À vista de todos, sexo com taxistas, empresários e até policiais. A omissão é abissal.

Expostos a todos os tipos de violações. Exploração sexual é só mais uma delas. Cada dia morre o direito e esperança por uma vida melhor. A infância está abandonada. Muitos meninos e meninas optam por esta vida desvalorizada e caem no colo do crime. Hoje, mais de 16.528 jovens cumprem medidas socioeducativas por alguma infração cometida. O combate deve ser não apenas à exploração infantil tão evidente nos últimos dias, mas a todas violações sofridas pelos pequenos, desde os maus-tratos por parte dos familiares ao crime.

Guerra de meninos

Desestruturação familiar ou Estado, não se sabe de quem é a culpa, mas o número de jovens infratores no país aumentou. Desigualdade social e insuficiência das políticas públicas são marcos no Brasil. Na questão dos adolescentes em conflito com a lei, o cenário não é diferente. A lei mais importante de garantia e proteção de criança e adolescente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), atingiu a maioridade em julho desse ano, e apesar dos avanços como redução em 45% da taxa de mortalidade infantil, aumento da expectativa de vida e maior acesso ao ensino, somam-se desafios a serem cumpridos no que se referem às medidas socioeducativas, na sua maioria serviços voltados à comunidade e internação em centros educacionais.

Um levantamento realizado em 2007, pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos apontou a existência de 16.528 adolescentes cumprindo essas medidas. Os adolescentes privados de liberdade estão sujeitos a um risco extremo de sofrer violência, que parte de todos os lados, dos funcionários ou dos outros detidos. A discussão remete ao caso do jovem assassinado pelos colegas no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), em Brasília, no mês de agosto. Superlotação, unidades inadequadas e maus-tratos são presentes no dia-a-dia desses jovens. O clima tenso e de horror nos centros impede a ressocialização dos adolescentes internados, e contribuem para maiores índices de reincidência.

No ano em que se comemoram os 18 anos do ECA é inaceitável que casos bárbaros de violação aos direitos humanos dessa população continuem ocorrendo no país. O compromisso deve ser acima de tudo com os jovens, e garantir a execução de políticas integradas como ensino, saúde,cultura, esporte e lazer.

E se ainda há motivos para celebrar este dia...FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!



sábado, 11 de outubro de 2008

Eterno Morto-vivo

Passei um bom tempo pensando qual texto publicaria hoje no meu blog. Foi difícil escolher, mais ainda elaborar. Meu primeiro filho na crônica... Aí vai!

Eterno Morto-vivo

Domingo fui ao Cine Brasília assistir à Terceira Mostra Internacional de Curtas, com filmes que até então desconhecia. Nessa ocasião, meu foco não eram os filmes, mas o cinema em si. Com mais de 600 pessoas, muitas espalhadas pelo chão, poltronas confortáveis, tela enorme, boa projeção: é o palco ideal para cineastas divulgarem os filmes. Predominantemente jovem e politizado, o público ferve durante as semanas de festivais e o local torna-se o atrativo da cidade.

Entretanto, o espaço que recebeu grandes cineastas, como o saudoso Glauber Rocha, alterna períodos de vida e morte. O Cine Brasília é assim, quando não acolhe tradicionalíssimos festivais, como o Festival do Cinema Brasileiro,desde 1965, está abandonado, sem aplausos ou vaias. O silêncio é espantoso.

Sinto-me envergonhada por deixar apagar as luzes do cine. A vontade é de confessar uma culpa que não tenho. Ou tenho? Talvez, por não ser fiel amante da sétima arte ou porque não me atento a programação variada oferecida o ano inteiro. Mas, a culpa não é só minha. Fora da época de grandes eventos, o espaço peca na divulgação e nas reformas, que só surgem com os festivais.

Terminou mais uma mostra no Cine Brasília, e agora só lembrarão do local nos próximos festivais. Amado por uns e ignorado por outros, o cinema volta ao vazio e cheira a mofo.A vida que explodiu em alegrias, agora adormece, e é quase um eterno morto-vivo. As sessões estão entregues às moscas.