sexta-feira, 7 de novembro de 2008

“Ohohohohoho”

Já dizia Martin Luther King, “Tenho um sonho que meus quatro filhos viverão um dia, em um país onde não sejam julgados pela cor de sua pele, e sim pelo seu caráter”. O caminho pela frente será longo. A subida será íngreme.Pode ser que não se consiga chegar lá, mas Deus há de abençoar os EUA da América.

Registrando o momento pela dona Quininha!

Disse ela:

- A vizinha era muda, de pouca conversa, na verdade nenhuma! Mas leitora de todas as revistas e jornais da banca, sempre muito cuidadosa. Devolvia ao monte a edição perfeita, sem amassos, onde ficaria até aparecer um leitor que pudesse pagar e levar em definitivo! Negra e sempre sorridente sabia conviver com as adversidades, e com o racismo também. Quando alguém a chamava de “preta” ela não respondia, até por que sendo surda não aprendera falar. Era uma pessoa feliz, podia viver em uma cidade grande sem se stressar com a poluição sonora. Não fugia de tiroteios, porque nem sabia que estava na mira de uma bala perdida. Era uma abençoada por Deus.

Lia como ninguém, diferente de muitos entendia o que estava escrito, apenas vendo as fotos. E de tanto ver a foto de Barack Hussein Obama ao lado de uma bandeira toda em riscos e estrelada, desconfiou que fosse um candidato a alguma coisa. Depois de muitas revistas folheadas e fotos lidas descobriu que era a presidente e não a vereador como pensava até aquele momento. “Presidente dos Estados Unidos! Lá presidente não é como presidente do Brasil não, lá tem Casa Branca, sabe de tudo, o nariz é pequeno, o avião não faz pouso de emergência, e o Lula de Lá não fica vermelho como o daqui”. Dava asas à imaginação enquanto que, pela afinidade de raça, passou a torcer para que um negro fosse eleito o presidente americano.

Não abandonava um gravador, no qual paradoxalmente gravava conversas e bate-papos de terceiros, para que ao encontrar um tradutor de linguagem de Libras pudesse então se meter na conversa alheia. Curiosidade não lhe faltava e vivia perguntando por sinais se Obama já havia sido eleito, sem entender que na América do Norte candidato tem muitos discursos, e o trem lá é arcaico demais. Enfim Obama foi eleito, mas Quininha não viu tantos coloridos fogos no céu como viu na eleição de Kassab em São Paulo, e assim só foi saber que seu candidato já fora eleito, depois de dois dias.

Surpresa de todos ao verem uma voz, que vinha do gravador escondido por baixo do vestido de Quininha, e em bom som repetia Oba, oba,Obama, enquanto o mesmo com sua mão esfregava a pele como se falasse “Também é negro”. E poucos a viram tão sorridente e “faladora”, pois no intervalo da gravação era “Ohohohohoho”, barulho igual a todos que são privados da audição, e não falam por que não aprenderam. Mas não só a vizinha, mas muitas vozes se juntaram ao gravador e uma multidão no mundo livre repetia “Oba, Obama!”